domingo, 25 de outubro de 2020

Reencontrando o rumo.

Da incontáveis palavras dirigidas à mim pelo Mestre Sênior Julio Camacho, ao qual passarei me referir por meu Si Fu nessas linhas, as que mais ecoam na minha cabeça, inclusive já escrevi e até gravei um vídeo sobre elas. Foi quando numa ocasião ele me disse: Claudio, você é uma pessoa tão habilidosa, que se houver uma enchente aqui neste local agora, você é capaz de transformar uma porta num barco, e salvar a todos aqui. Entretanto, se torna vítima dessa própria habilidade por abrir mão da preparação por achar que pode se garantir sempre, que jamais seria capaz de construir esse prédio. 

De fato, até aquele momento em minha vida, eu sempre fui muito mais voltado para "apagar incêndios que para projetar sistemas anti-chama". De maneira superficial, até me orgulhava de ter uma natureza com aquilo que eu entendia por Biu Ji (Nível Avançado do Fase Estruturada do Sistema Ving Tsun que fecha a primeira trilogia de duas do Sistema Ving Tsun). Porém confesso hoje, que nesse nível, ao qual estudamos dentro da emergência a capacidade de retornar ao estrategicamente ideal, eu sentia um desconforto que sempre me intrigou durante minha Jornada Marcial no Sistema. Era como se me faltasse algo, que não entendia bem, mas ficava como um ruído de fundo falando baixinho em meu intimo que eu estava fazendo aquilo errado. 

As  maiores vantagens  numa relação Si Fu Todai (Mestre Discípulo) é primeiro que, ao assumirmos o compromisso do Discipulado, assumimos mutuamente e vitaliciamente. Meu Si Fu estará sempre para me conduzir no desenvolvimento do meu Kung Fu, e cabe à mim procurá-lo da maneira adequada. E o melhor disso, temos uma vida toda para tal. Dessa maneira, mesmo por inúmeras vezes tendo eu me desanimado dessa jornada, e até me afastado por inúmeras razões, toda vez que retornava, meu Si Fu estava lá para me receber novamente. E assim, aos poucos, fui me sintonizando com uma frequência cada vez maior nessa relação muito especial que vem me trazendo incalculáveis benefícios, muitas vezes bem acima daquilo que posso até oferecer ao meu Si Fu como seu Discípulo. 

Hoje foi um desses dias onde me beneficiei muito acima do esperado, durante uma de nossas práticas on-line no Projeto Desvendando a Fase Estruturada, conduzida direto de Miami pelo Si Fu. Dentre atividades práticas sempre com um mergulho mais profundo no Sistema, estávamos estudando justamente o Biu Ji, quando na proposta de tirar minhas vendas, dentro da proposta que dá nome à série de práticas, fechei algumas lacunas em aberto sobre meu entendimento sobre o Sistema. 


Curiosamente, tenho tentado mudar minha maneira de ser já tem algum tempo, me voltando muito mais para a preparação, do que para a emergência. Para a prática de hoje, eu comecei me preparar ontem, tanto a ambiência, quanto corporalmente, tentando antecipar quais desafios poderiam surgir, e mesmo assim me decepcionei demais com minha atuação durante a execução de parte da listagem do Nível. Mas no Kung Fu, como me disse o Si Fu durante a aula, o resultado nunca é o mais importante, e sim o que extraímos da experiência. E dentro dessa máxima, após o término continuei praticando um pouco mais, buscando levar o aprendizado de hoje para a natureza do Domínio do Nível Superior final. E como num passe de mágica, consegui produzir alguns movimentos com as Facas VIng Tsun Do, com uma precisão e energia, que jamais havia conseguindo antes. Como se tivesse descoberto novas conexões energéticas entre o quadril, cotovelos e os punhos, as facas passaram deslizar com mais firmeza e suavidade em minhas mãos.

Mas na Guerra não há tempo para o luto nem para a celebração durante  pequenas batalhas. Logo que percebi essas diferenças, notei também que veio um novo conjunto de questões a serem resolvidas, nesse quebra cabeça sem fim de se usar o corpo marcialmente como uma ferramenta de aprendizado constante. Para minha sorte, ainda tenho muito dessa vida toda para novas descobertas nesse grande desafio do Kung Fu.


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