segunda-feira, 30 de setembro de 2019

O primeiro da fila.

Pedro Patrick ajudando numa aula no Núcleo Ipanema
Quando me propus ser diretor de um Núcleo da Família do meu Si Fu, o Mestre Sênior Julio Camacho outorgado pela  Moy Yat Ving Tsun Martial Intelligence, por mais que achasse na época ter profundidade o suficiente como Praticante para o desafio de gerenciar uma unidade responsável pela transmissão de nosso legado cultural, com tempo fui caindo na realidade que quanto mais me dedicava em ampliar em conhecimentos, mais notava o quão o meu saber ainda era tão raso e rarefeito.  Por isso dentre inúmeros conselhos que meu Si Fu me passa no cotidiano, especificamente sobre a condução desse processo,  o que me é mais precioso justamente é o de me lembrar sempre em minha ações e colocações que sou um representante dele. Porque dessa maneira tenho como me apoiar onde o chão dessa jornada não me é tão firme. 
Mestre Sênior Julio Camacho recebendo seu novo Discípulo

Foto Tradicional Cerimonial Família Jo Lei Ou 
E o que é ser um representante do Meu Si Fu? Poderia escolher inúmeras maneiras de dizer isso, mas a que opto usar como Linha Central e buscar inspiração  no que temos em comum em nossos Nomes Kung Fu. Foi justamente no ideograma  - "Jo" (Ancestral) , dentro do próprio entendimento de Ancestralidade que meu Si Fu me ensinou, que busco orientar meu trabalho no Núcleo Ipanema. E durante o  77o Ato Cerimonial da Família Jo Lei Ou, ocorrido na data de 24 de Setembro de 2019, o Primeiro Discipulado de um membro oriundo dessa Casa do Clã Jo Lei Ou na Zona Sul do Rio de Janeiro, Pedro Patrick Alvear Espozel, agora também conhecido a partir dessa data pelo seu nome Kung Fu "Moy Ba Tek"-   巴 覿, que se deu um significado prático prático à esse entendimento que resguardar nossa ancestralidade tanto aponta para por honrar aqueles que bravamente construíram essa ponte que nos legou o Sistema Ving Tsun, tanto quanto por zelar por aqueles que no futuro o legarão às gerações vindouras. Pois de acordo com aquilo que entendi das palavras ditas pelo Si Fu durante esse Ato Cerimonial, o que fizermos com excelência pelos que virão a serem inscritos em nossa já rica Árvore Genealógica, produzirá nossos Ancestrais do futuro. 

Si Fu, Si Mo e Patrick atualizando o Painel de Membros
Nesse espírito é com muita orgulho que vejo meu ainda claudicante trabalho tornando aos poucos possível que eu possa cada vez mais me apropriar das características de outro ideograma que recebi de meu Si Fu em meu nome Kung Fu, -"Kat" que pode ser entendido também como honrar. Entretanto jamais deixaria de entender como a sorte no sentido de boa fluência dos fatos, ter conhecido o Jovem Patrick, que devido à sua amizade com meu filho Pedro Henrique levou-o a curiosidade  de conhecer nosso trabalho, graças ao seu interesse por artes marciais despertado por seu falecido pai, Alexandre Espozel, que desde criança o incentivou através do Krav Maga, e do apoio imprescíndivel de sua mãe Ana Cristina Avelar.  Permitindo assim que a união de tantos fatores propícios, mais um importante ciclo se completar graças a confiança de meu Si Fu em apostar naqueles que se dispõe seguirem juntos.


segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Lotus a Cavalo.

Cerimônia tradicional de Discipulado na Família Moy Lim Mah
Neste fim de semana o Rio de Janeiro foi agraciado pelo evento organizado pela Família Kung Fu Moy Lin Mah, liderada pela Mestra Sênior Úrsula Lima, diretora do Núcleo Copacabana, credenciado pela Moy Yat Ving Tsun Marcial Intelligence onde, apoiado na visita Oficial de seu líder, o Grão Mestre Leo Imamura, se realizou importantes atividades práticas para nossa Arte, inclusive um significativo Seminário de Geuk Jong, estudo voltado par se desenvolver a habilidade de deslocamento e chutes, ocorrida no Núcleo do Clã Moy Jo Lei Ou em Ipanema, por ser o único Núcleo da cidade que possui equipamento adequado para tal prática. No Sábado foi realizada uma tripla cerimônia de Discipulado dessa família, comemorando o aniversário de sua emblemática líder, minha querida "tia Kung Fu", na qual o referente termo Si Suk sempre carrega, de minha parte, um carinho muito especial.

Jovem Mestra Úrsula pegando pesado na preparação do Mogun.
Eu conheço minha Si Suk desde 2003 e provavelmente ela não se lembra, mas foi ela quem promoveu a abertura do meu Siu Nim Tau Nível Básico da Fase Estruturada do Sistema Ving Tsun. Após demonstrar a primeira parte da Listagem do Domínio, ela me disse a frase que eu talvez tenha demorado uma década para começar, minimamente, a compreender a relevância: "agora você já tem Kung Fu”.

Dentre este e outros incontáveis momentos vivenciados, uma experiência que muito me marcou logo no início de minha jornada Kung Fu foi apreciar sua dedicação e entrega na organização do evento da primeira visita ao Brasil da Si Taai Po, Madame Helen Moy, como liderança de nossa Denominação após o falecimento de seu esposo e nosso Patriarca Moy Yat. E, como sua imensa capacidade de superação em não perder a firmeza, mesmo tendo errado a sequência de movimentos durante uma apresentação do Biu Ji num evento organizado para praticantes do mundo inteiro aqui no Brasil.


Cerimônia de Discipulado da família Moy Lin Mah .

Lembro-me de quando ainda praticava no Núcleo Tindíba, em Jacarepaguá, que o máximo que conhecia dos níveis mais avançados era ver meus irmãos Kung Fu praticando nosso principal instrumento de combate simbólico conhecido como Chi Sau, um quadro ilustrando a Listagem dos movimentos do Bastão no Domínio Luk Dim Bun Gwan, Nível Intermediário da Fase Semi Estruturada do Sistema e ter visto minha Si Suk encapando a pegada das facas pro seu Si Hing (irmão Kung Fu mais velho), meu Si Fu, que reclamou que ela colocou a fita do mesmo sentido nas duas facas, dizendo-a: “de fato você ainda não entende nada de Baat Jaam Do”. Naquela ocasião o meu Si Fu me deixou o encargo de fechar a porta do Mogun, mas minha Si Suk prontamente me interditou. Na época achei que fosse algum tipo de percepção extra sensorial Kung Fu, por que, de fato, eu estava mal intencionado em descobrir onde estava guardado o par de facas e, por curiosidade, de mexer escondido nelas. Mas com tempo descobri que não se tratava de nada metafísico, apenas mais uma demonstração de sua imensa responsabilidade para com tudo que lhe é confiado.


Mestra Sênior  Úrsula Lima, líder da Família Moy Lin Mah 
A única tristeza que tive em nossa relação foi quando soube que ela escolhera seguir um caminho profissional nada referente ao Kung Fu e de fato senti como uma grande perda para as gerações futuras a falta dessa referência tão marcante. Mas a tristeza durou pouco, para sorte de todos nós que a conhecemos através do Ving Tsun, principalmente na data deste sábado, 21 de Setembro de 2019, quando Fernanda Lima, Heitor Furtado e Vitor Barros se tornaram seus Discípulos no Ato Cerimonial conhecido por Baai Si, que ocorreu numa empolgante Cerimônia Tradicional no salão de jantar do Windsor California Hotel, localizado em frente à praia de Copacabana. Aproveito estas linhas para parabenizá-los pela sábia decisão de vitaliciamente seguirem os passos de sua Si Fu. Dos inúmeros frutos da minha Si Suk não posso deixar de ressaltar a gratidão que tenho por ela ter recebido meus filhos em seu primeiro Núcleo de Copacabana, para praticarem enquanto crianças, com o apoio do meu irmão Kung Fu Guilherme de Farias, cedendo seu Mogun para esses pequenos membros da família do meu Si Fu, o Mestre Sênior Júlio Camacho.


Foto oficial atividade Geuk Jong do Núcleo Copacabana em Ipanema 
Em minhas tantas memórias, gostaria de destacar também a oportunidade que tive de acompanhar meu Si Fu à São Paulo no Conselho de Mestres, onde pude apreciar outra característica marcante de minha Si Suk, a determinação que a faz ser uma pessoa rígida e questionadora que só adere quando compreende plenamente o proposto. Mas a lembrança mais marcante que tenho de tê-la assistido foi, quando numa cerimônia tradicional na Filadélfia, mesmo com respaldo de ser uma Mestra titulada pelo Si Gung, foi colocada à prova toda sua destreza como praticante quando convidada à prática de Chi Sao entre lendárias figuras internacionais de nossa arte, demonstrando sua elegante marcialidade em alto nível de Kung Fu, sem descer do salto alto que calçava.

Na sexta feira, 20 de Setembro de 2019, quando minha Si Suk veio me agradecer por ter cedido o espaço do Núcleo Ipanema para atividade do seu fim de semana de eventos, com a presença do meu Si Gung (Grão Mestre Leo Imamura), meditei sobre o quanto fui eu quem ficou profundamente grato pela presença de sua tão madura Família Kung Fu na organização desse momento e, o quanto isso me serve de incentivo no meu próprio processo de transmissão do Sistema Ving Tsun.
Mestra Sênior Úrsula Lima, Ricardo e a Rebeca 

Hoje vejo minha Si Suk como um exemplo de integridade, de uma pessoa que consegue, com alto nível, integrar ser esposa, cuidar de sua família, ser mãe, ser mulher e ainda ser uma líder de família Kung Fu, tudo de uma maneira que demonstra, exemplarmente, aquilo que sempre ouvi Grão Mestre Leo Imamura, meu Si Gung (avô Kung Fu), dizer sobre o papel de uma liderança efetiva. Talvez a Mestra Sênior Úrsula Lima seja uma das fontes que inspira meu Si Fu, em sua paciente cobrança a seus próprios discípulos, nessa profunda entrega a algo tão maior que nós, de uma maneira tão integral quanto minha querida Si Suk. 

Por fim, gosto de pessoalmente interpretar seu nome Kung Fu como “a resiliente Flor de Lótus” que, com a força e mobilidade do Cavalo, agora brinda o mundo no desafio da internacionalização da sua própria Família, com seu abundante altíssimo nível de Kung Fu, dando muito mais sentido ao conceito de humanidade que tanto pregamos. 

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

O Som do Kung Fu

Mestre Sênior Julio Camacho orientando Vida Kung Fu
O Mestre Sênior Julio Camacho, meu Si Fu e mentor na busca da Vida Kung Fu, já comentou inúmeras vezes durante nossas refeições, que uma mesa de praticantes de Ving Tsun num restaurante, sempre se destaca pela sua sintonia. É muito comum olharmos ao redor para observamos nessas ocasiões e constatarmos como euforia, ou desconexão, ou apatia são manifestações muito comuns entre os demais grupos que sentam juntos durante a ceia. Esse fenômeno me faz sempre refletir o quanto o processo de refino da sintonia nos é tão fundamental para o desenvolvimento humano, e como essa sintonia pode ser apoiada na sonoridade geral de um praticante de alto nível de Kung Fu.

Café da manhã na Sede do Clã Moy Jo Lei Ou na Barra
Dentro da nossa tradição no processo de transmissão do Sistema Ving Tsun, nos é muito comum usarmos a palavra escuta até mesmo na dinâmica gestual da luta, o termo Man Sau 手 (mão que pergunta) é talvez um dos mais usados antes de qualquer ação, seja em função da prática, da gestão, ou mesmo do cotidiano. Meu Si Fu costuma dizer que é muito comum as pessoas buscarem cursos de oratória, mas quase ninguém procura entender a importância da escutatória.  Em nossas atividades de Vida Kung Fu, buscamos a sintonia através do desenvolvimento da capacidade de nos escutarmos numa mesa, enquanto refinamos nossa atenção cuidadosa em cada detalhe, buscando sempre o refinamento do pensamento através do ordenamento adequado na fala, que por consequência resulta nessa sonoridade harmônica de nossa Família Kung Fu, muitas vezes o que notoriamente nos diferencia em relação aos demais frequentadores de um mesmo ambiente. 

 Baat Jaam Do na Barra sobre o
piso de cimento queimado 
Essa valorização da sonoridade resultante da busca pelo refinamento da atenção cuidadosa se manifesta também em nossas práticas corporais através de muitos exemplos. Um deles está em nossa Coleção de Provérbios Marciais Ving Tsun Kuen Kuit, Transcritos em Cantonês nos "Livros de Perda" pelo nosso Patriarca Moy Yat, onde parte de uma fala diz respeito ao bastão fazer apenas um som. O que quer dizer que a precisão do golpe não pode gerar mais mais que um ruído, mesmo tendo outro bastão apontado pra si. Ou como dizia o Patriarca Moy Yat, o único som que se escuta é o urrar do atingido.  Mesmo na prática do Muk Yan Jong, o famoso boneco de madeira do Sistema, a maneira como golpeamos o boneco diz muito respeito ao nível de Kung Fu do praticante. Não é incomum o Si Fu corrigir nossos movimentos nesse instrumento, mesmo quando de costas para nossa ação, simplesmente em razão do som que nossos golpes geram no aparelho. 

Ultimamente tenho estado muito atendo no barulho que os pés geram durante as aulas que ministro no Núcleo Ipanema, e cada vez mais compreendo a escolha do padrão de piso feita pelo Si Fu, inspirada na visita que ele fez ao Monastério Siu Lam 少林 quando esteve na China. O chão do Mogun é outra excelente ferramenta de desenvolvimento de Kung Fu, pois o barulho que cada passo gera denuncia a qualidade de nosso movimentos, nos ensinando como otimizar o enraizamento da base, a capacidade de distribuir peso sobre os pés, resultando numa maior excelência na movimentação marcial. 


A prática do Sistema Ving Tsun de Inteligência Marcial, permite ao praticante um aprimoramento progressivo em sua capacidade de se relacionar com o todo, pois nossa busca incessante em ampliar a sensibilidade, nos capacita à respostas mais eficazes para os desafios do dia a dia, nos ajudando na difícil tarefa do desenvolvimento humano através da interação de maneira integra e integrada com o universo. 


segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Pés no chão.

Prática na madrugada após um dia de  Imersão de Gest
Meu Si Fu, o mestre Sênior Júlio Camacho da Moy Yat Ving Tsun líder do Clã Moy Jo Lei Ou, sempre reforça que o processo de desenvolvimento pessoal através Sistema Ving Tsun, passa por alinhar o pensamento às ações através da perspectiva Kung Fu. Em termos subjetivos, para uma pessoa como eu, que sempre fui identificado por ter a cabeça nas nuvens, nunca me foi difícil conceituar sobre como o aprendizado das práticas poderia ser aplicado às necessidades do cotidiano. Sou capaz de passar horas pensando no assunto ao ponto de nem perceber o dia passar sem ter colocado nada em pratica, acreditem!
Praticando Chi Sao no Continente Africano em Angola 

Quando iniciei minha jornada no Kung Fu, já fazem bem uns dezessetes anos,  poderia já ter o completado o Sistema se não tivesse passado as horas que mencionei acima apenas refletindo e  tivesse praticado mais, eu verdadeiramente não entendia como as atividades não relacionadas às práticas de combate simbólico potencializavam o desenvolvimento marcial. Devo confessar que era muito estranho pra mim ver meus irmãos Kung Fu se dedicando nos processos do Núcleo, eventos e Família Kung Fu, como forma de aprimoramento pessoal. E sempre tinha uma boa desculpa para sair pela tangente dos convites que me eram feitos. Talvez essa dificuldade de compreensão se traduza um pouco no episódio da narrativa da mesma incompreensão onde recentemente Ismael, membro do Núcleo Ipanema, me disse que foi pesquisar na internet para mostrar à um amigo sobre nossa Instituição, e teve muita dificuldade de encontrar imagens de lutas, pois sempre que pesquisava sobre nós era uma enxurrada de fotos de refeições entre a Família Kung Fu. 

Viagem à Buenos Aires com Meu Si Fu 
E foi justamente minha relutância em mergulhar fundo na Vida Kung Fu, de maneira mais efetiva no processo da relação Si Fu Todai, que tornava a fantasia do Kung Fu algo sempre maior que a realidade do desenvolvimento humano que temos como principal "produto ofertado" por nosso trabalho. Sempre que eu ouvia meu Si Fu falar que Ving Tsun é um negócio tão legal que serve até pra lutar, eu jogava esse conceito muito mais para o campo da imaginação, que para o campo da prática. 

Foto Si-To Luxemburgo 2019






No ano de 2013, finalmente eu aceitei a aposta do meu Si Fu em mim, e aceitei o convite ao Discipulado, devo confessar que na época eu ainda acreditava que quem estava apostando era eu, mas prefiro deixar isso para uma postagem posterior. E em fim entendi que esse processo em si não mudaria nada se o simbólico  não service  como lastro para se impelir ações práticas. Passei me permitir apreciar as nuances da vida Kung Fu, principalmente nas viagens internacionais com meu Si Fu. Processos pesado de imersão numa dimensão de treino que vai muito além da prática de luta, onde a morte simbólica poderia ser apreciada em cada ato de um dia, do deixar uma colher cair no chão num café da manhã, ao quase perder um vôo por deixar meu laptop na sal de embarque. O melhor disso tudo, foi o aprendizado que minhas desculpas plausíveis como cansaço, problemas distantes, ansiedades e frustrações, se tornavam cada vez mais inverídicas para mim mesmo. 

Imersão de Gestão Kung Fu, Setembro de 2019
Hoje como profissional de Ving Tsun, algo que jamais haveria pensado na vida, meu olhar de dentro desse processo me faz perceber o quanto a ilusão do Kung Fu é distante da prática em si, nessa minha proposta em buscar desenvolvimento através de alcançar a excelência em cada gesto. Sei que ainda estou muito distante daquilo que enxergo como possível, e que talvez jamais alcance o que observo nos notórios exemplos que conheci dentro da Denominação Moy Yat Ving Tsun, mas uma coisa eu tenho certeza hoje, não vai ser viajando na maionese que chego lá,. Então peço licença aos que estão lendo, que tenho que pôr as mãos à obra aqui.