segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Kung Fu não se testa.

Nas palavras do Mestre Sênior Julio Camacho, o qual chamo de Si Fu nestas linhas (Líder de Família Kung Fu)  toda tentativa de se testar o próprio Kung Fu parte da ingenuidade do praticante. No alto Nível o processo de Desenvolvimento oriundo da prática do Sistema Ving Tsun, não se tem como testar o quanto temos de Kung Fu em nossas ações, primeiro porque nenhum resultado prático pelo olhar marcial pode ser dado como plenamente satisfatório, pois o Kung Fu nos impele ao processo de melhoria constante, e por fim porque a manifestação do Kung Fu desenvolvido por cada se dá na exata medida do quanto investimos no processo de próprio desenvolvimento. Como disse meu Si Fu hoje durante a prática do Nível Superior Final, o que se deve fazer, é simplesmente executar o que tem a ser feito, dentro da capacidade que se tem de fazer. 


O distanciamento emocional diante do resultado de cada ação de um praticante em busca pelo alto nível não permite quem caminha nessa jornada se envergonhar ou se envaidecer do próprio Kung Fu. A marcialidade de encarar o simbolismo de morte em cada ação, traz ao praticante uma profunda reflexão sobre cada processo de maneira buscar arte em cada gesto, e na arte não há erros nem acertos, apenas a expressão pessoal do artista. O que se consegue medir com relativa objetividade é o quanto essa expressão tem o poder de inspirar o outro através dos processos de mobilizações. 


Meu Si Fu sempre coloca o Kung Fu como uma lente que nos permite compreender o universo além da visão superficial do senso comum. Uma habilidade desenvolvida através do investimento inteligente e estratégico que se permite ir além do olhar coloquial sem colocar resultado acima dos processos. Portanto, avaliar de maneira cartesiana esse desenvolvimento em si já parte de um contra senso, porque não faz sentido algum estabelecer ou mensurar parâmetros para o desenvolvimento humano. 

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Família é para essas coisas.

         Muitos praticantes do Sistema Ving Tsun de Inteligência Marcial já devem ter se perguntado qual o papel de uma Família Kung Fu? Mesmo que não se tenha uma resposta pronta na cabeça, ouso dizer que todos que tenham vivenciado algum período dentro de uma experiência de Vida Kung Fu, sentem que sabem muito bem o significa pertencer à uma. 


        Durante muitos anos da minha própria jornada como praticante, eu não tive maturidade suficiente para apreciar o benefício de ter vitaliciamente alguém cuja responsabilidade é acima de tudo ser meu mentor dentro dos preceitos do Kung Fu. Em muitas ocasiões meu Si Fu (Líder de Família Kung Fu) me deu exemplos claros, orientações precisas, e apontamentos objetivos sobre o quanto eu desperdiçava essa incrível ferramenta de desenvolvimento ao meu dispor dentro da ambiência da Família Moy Jo Lei Ou.  E por inúmeros momentos que jamais voltarão, eu deixei-me escapar oportunidades ímpares de me desenvolver através dos desafios desse convívio nuclear de um grupo de pessoas dispostas se dedicarem ao nosso Legado Marcial. 


Família Kung Fu, ao contrário de uma família consanguínea, é um ambiente rico de experiências dissonantes onde todo processo independente do resultado pode e deve ser aproveitado para se desenvolver-se muito além daquilo que imaginamos sermos capazes. Através do constante investimento de nosso Si Fu na aposta de fazer de cada um de seus liderados grandes líderes. Ou como ele disse numa certa ocasião onde tive que trabalhar e superar meus desconfortos: seu sonho como Si Fu era que cada ato dele gerasse evolução em seus discípulos. Mas como diria Mané Garrincha, pra assim ser, "é preciso combinar com os Russos", ou, que o outro lado deve estar tão disposto nessa busca quanto nosso Si Fu sempre se coloca disponível na orientação. 


A minha concepção de Família Kung Fu já mudou inúmeras vezes, e minha maior esperança que que sempre mude, porque se assim continuar sendo, significa que continuarei disposto cada dia aprender e realizar mais através da Vida Kung Fu.  E qual é a sua?

 


segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Navalha na folha.

         O Nível Superior Final do Sistema Ving Tsun de Inteligência Marcial, que hoje me é dado acesso pelo Mestre Sênior Julio Camacho, ao qual chamarei por Si Fu nessas linhas ( Líder de Família Kung Fu) promove aos que se dedicam à sua prática, a capacidade de usarem seus corpos como poderosos instrumentos de desenvolvimento mental. Executar com precisão, letalidade e estratégia, na busca de extrair todo o potencial alcançável  através do manejo das duas facas (Ving Tsun Do), vem transformando minha própria maneira de compreender o mundo, e até compreender-me melhor. 

        Me recordo que quando iniciei minha jornada pelo Kung Fu, minhas distantes fantasias me faziam

acreditar que o domínio do Sistema era uma questão de esforço aliado ao tempo de prática. Não que esses dois componentes não estejam presentes naqueles que completam os Seis Níveis de nossa Arte. Mas quanto mais me aproximo do término do acesso das Listagens que compõem essa Obra de Arte Marcial, mais me sinto um aprendiz me encantando com cada nova descoberta diante do  vasto campo de conhecimento ainda a ser desvendado. Perceber como meu corpo e mente, como uma máquina ainda dessincronizada vem buscando sintonia através do meu mergulho de cabeça na prática, tem me trazido grandes momentos de reflexão sobre o quanto eu desperdicei todo o potencial que sempre tive, mas que sequer percebia, dado minha ausência de Kung Fu.

        Hoje durante a prática semanal coordenada pelo Si Fu de Miami, eu me dei conta da sutil diferença entre agressividade e marcialidade. Onde usando apenas a primeira, não seria capaz sequer de furar uma folha de papel, mesmo usando as armas de verdade que tenho. Mas quando passo colocar o Sistema Ving Tsun a serviço de algo que pode parecer apenas uma simples estocada de faca, o resultado tanto externo, quanto internamente em meu corpo, traduz-se numa inenarrável experiência de Kung Fu.



terça-feira, 1 de setembro de 2020

Resenhas Marciais.

O termo resenha vem caindo cada vez mais na linguagem coloquial, e graças ao poder de transformação da língua, vem assumindo diferentes significados no cotidiano. 

Recentemente fui convidado para uns amigos para um resenha, e a primeira pergunta que fiz, era qual seria o tema. Surpreendentemente descobri que se tratava de uma festa entre conhecidos, um momento de entretenimento sem nenhuma profundidade além de divertimento.  Por vezes sinto dúvidas se a medida que envelheço, meu maior desafio é acompanhar a evolução tecnológica, me manter atualizado à volatilidade linguística, ou não me assustar com o estalos dos meus joelhos. 

Eu e o Mestre Sênior Julio Camacho

Um das melhores coisas do Sistema Ving Tsun de Inteligência Marcial, é que uma importante parte do desenvolvimento do meu Kung Fu, que inclusive tem impacto crucial na manifestação das minhas habilidades demonstradas durante a prática, se dá através do investimento na Vida Kung Fu. Sendo boa parte desse processo de aprendizado pela da comunicação verbal, e em alto nível através da manifestação das resultantes das minhas ações.

Recentemente, em razão de algumas decisões necessárias, estou morando com meu Sidai (Irmão Kung Fu mais novo) Guilherme de Farias. Isso tem nos permitido extrair do convívio, momentos intensos de imersão Kung Fu. No último Domingo, após uma prática matutina do Nível Superior Final, que havíamos programado para uns dez minutos e que durou uma hora e meia, fomos apreciar um café da manhã, onde o assunto não foi outro, senão uma troca de perspectivas do Sistema Ving Tsun. Uma profunda conversa entre dois praticantes, onde debatemos pontos distintos de nossas abordagens aos mesmos dispositivos sistêmicos de nossa arte, cada um buscando em si um enraizamento mais profundo para defender o próprio ponto de vista, num rico embate onde não houve derrotados, pois tínhamos a clara consciência que nenhum dos dois almejava convencer o outro, estávamos ali para através do outro, enriquecer nossos próprios pontos de vista, de uma maneira tão ímpar que só através de muito Kung Fu se é possível. 

No dia seguinte, eu tive uma reunião com o Mestre Sênior Julio Camacho, meu Si Fu, sobre a reabertura da sede do Núcleo Barra, e pude me dar conta do quanto o desenvolvimento do meu Kung Fu vem se transformando em resultados para todo esse processo, através de uma dedicação cada vez mais alinhada aos valores de nossa Família Kung Fu, manifestados pela minha crescente capacidade de prática do zelo em minhas ações. 

Eu e meu irmão Kung Fu Guilherme de Farias
A noite se encerrou com nossa prática on-line do Nível Superior Final, conduzida pelo Si Fu. Em razão de alguns compromissos, não retornei para casa que divido com o Guilherme, mas pedi-o que colocasse meus Ving Tsun Do de praticar num Uber, de forma que chegasse onde eu estava em tempo da hora do encontro. Curiosamente o Si Fu não solicitou-me demonstrar a Listagem com as armas, mas o simples fato de estar com elas à disposição, depois de um dia praticamente quinze horas de trabalho interrupto, sem nenhuma desculpa na ponta da língua para caso ele me solicitasse e eu não tivesse providenciado a chegada das facas, já é para mim algo que ele sempre buscou me ajudar desenvolver. A capacidade de me manter em guarda e prontidão constante, sem deixar brechas nas minhas ações que me permitam ser golpeado pela vida. 

O mais admirável da busca pela incansável pela inalcançável  Excelência Marcial, é que não é tão cansativo quanto eu imaginava, antes desse meu mergulho mais profundo no universo Kung Fu. Para mim tem sido até muito animador e até mesmo divertido, poder compreender cada vez mais o potencial de nossa Arte Marcial como ferramenta de Desenvolvimento Humano. Assim como tem me sido muito gratificante minha dedicação em traduzir aquilo que assimilo através do meu trabalho no processo de Transmissão do Sistema Ving Tsun, tal como uma resenha no sentido de descritivo e até mesmo crítico, como na conotação mais festiva do moderno uso da palavra.