quinta-feira, 22 de outubro de 2020

A Guerra e o Zelo.

 De acordo com Patriarca Moy Yat, Discípulo do Famoso Mestre do Bruce Lee, Patriarca Ip Man,  se mede o nível de Kung Fu de um Artista Marcial pela sua capacidade de relaxar e ser gentil, algo que parece contraditório ao que hoje pode ser considerado uma atividade física, ou esporte, mas que durante grande parte da existência da humanidade foi constituído em função da guerra. 

O Mestre Sênior do Sistema Ving Tsun de Inteligência Marcial, ao qual me refiro como Si Fu nessas linhas, afirma que a agressividade é matéria prima das artes marciais. Dessa maneira, parece cada vez mais contraditório falar sobre relaxamento e gentileza, quando falamos de Kung Fu.

Foto Tradicional Si Fu Todai

Primeiramente faz-se necessário compreender que o processo de desenvolvimento daquilo que nos compreendido como Kung Fu através do Sistema Ving Tsun, demanda uma ressignificação do senso comum sobre Arte Marcial. Entendendo o processo marcial como algo advindo da cultura da guerra, compreender que a grande guerra da humanidade é de fato aquela que ocorre dentro de nós mesmos, colocando o relaxamento sempre a melhor maneira de silenciar os anseios de maneira não se agir de forma precipitada, imprudente, contaminada por emoções exacerbadas, ou afetadas por uma leitura imprecisa dos cenários. Quanto mais nos colocamos sob tensão, menos temos a capacidade de sustentar um alto nível  de atenção por longos períodos. Para a luta do dia a dia, o relaxamento nos permite sustentar um estado mental de guarda e prontidão muito mais eficaz. Por isso a orientação de um Si Fu ultrapassa em muito o mero aspecto técnico marcial, e nos permite o desenvolvimento de uma condição mental alinhada e afiada. 

Quando meu Si Fu me diz por exemplo, durante uma Sessão do Nível Superior Final, onde para nossa segurança usamos réplicas de facas ao qual devemos tratar com o mesmo cuidado e atenção que os afiados e letais Ving Tsun Do, é justamente para me proporcionar uma ambiência subjetiva que permite o desenvolvimento de uma atitude mental marcial constante. E aí começa inclusive ficar mais claro o papel da gentileza. A gentileza manifestada pelo processo de atenção cuidadosa ao qual nos referimos por zelo, permite ao praticante de Ving Tsun, voltado para o desenvolvimento de seu Kung Fu, acessar uma camada além do conceito marcial do estilo, mas aquele que hoje seja o que mais me encanta, a parte artística. Também é muito comum ouvirmos do meu Si Fu que arte é a capacidade de colocar a expressão pessoal  transformando algo não definido em estado bruto, numa obra refinada que representa seu autor. 

O processo de uso do Sistema Ving Tsun como ferramenta de Desenvolvimento Humano, passa pela necessidade de um mergulho profundo nas nuances do conceito de humanidade. O relação discipular permite ao praticante fazer de nosso Si Fu como um referência do processo do Zelo, e nessa linguagem que quanto mais alto nível, mais silenciosa e discreta se torna, aprendemos que cuidado sem atenção e vice versa, desperdiçam o potencial de explorar da gentileza como um poderoso dispositivo desenvolver-se como artista marcial. 



Nenhum comentário:

Postar um comentário