segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Alinhando os passos.

 Recentemente numa conversa uma das poucas pessoas que me conhecem profundamente, dado nossa amizade de uma década e meia, abordamos o assunto do quão somos reativos aos eventos do cotidiano. Basta uma curta caminhada pela calçada de qualquer centro urbano do planeta com circulação pesada de veículos para em menos de um minutos podermos observar a agressividade do comportamento dos motoristas, reagindo com insanas arrancadas e freadas, gestos grotescos, e com o acionamento nada eficaz da buzina, para não dizer irritante. 

O episódio desse dialogo me levou para uma profunda reflexão da minha própria reatividade ao meio, e como extraí benefícios do Sistema Ving Tsun de Inteligência Marcial, porém o mais importante, o quanto ainda tenho para obter benefícios desse maravilhoso estilo de Desenvolvimento Humano através do Combate Simbólico agora que estou tendo acesso a Fase Superior Final de nossa Arte.

Comecei levar para as minhas práticas uma atenção redobrada aos meus sentimentos em cada ação, como regia ao risco do gole, ao ser golpeado e também ao golpear. E procurei me trabalhar apoiado numa das falas recorrentes do meu Si Fu, que sempre diz que um praticante de alto nível não pode permitir se vitimar nem com a derrota, muito menos coma vitória. E apoiado em seus ensinamentos sobre a necessidade de precisão tanto durante prática, quanto no dia a dia, através de uma constante atenção cuidadosa com meus atos e palavras venho buscado uma profunda ressignificação das meus padrões de reação aos incontroláveis eventos da vida.

Curiosamente, toda arte marcial toca fundo numa característica inerente ao ser humano, a competitividade. Entretanto o sentido de Família Kung Fu nos exorta uma compreensão diferente, contida em nosso processo de transmissão .Aquilo que chamamos de mobilização nos faz entender que quanto mais me esforço para que o Kung Fu do outro evolua, naturalmente o meu evolui sem que eu precise me preocupar com isso. 

Dessa forma, passei investir pesado em 

reduzir meu ego inflamado e imaturo durante a prática, e comecei perceber inúmeros mecanismos mentais que ativam minha impulsividade. Em outras palavras, comecei buscar parar de me preocupar de ser atingido e buscar entender melhor o porque estava sendo golpeado, assim como reduzir minha vontade de golpear a todo custo e passei buscar golpear apenas quando havia plena condição de o fazer.  E acima de tudo manter o foco no processo, e não no resultado, desenvolvendo  uma notória tendencia a consequências mais eficazes, reduzindo e substituindo a angustia da expectativa pela estratégia de construir perspectivas.  

Traduzindo isso para o cotidiano, pude redirecionar a energia que costumava gastar em reações impulsivas, para me preparar melhor para o dia dia. Entendendo fundamentalmente que estar preparado parado não impende que os imprevistos me atinjam, mas tal como na prática Shi Sao, a qualidade da minha preparação em cada "rolada de braço"me dá condições de apreciar plenamente o momento presente, e acompanhar atentamente suas transformações, me ensinando não forçar que as coisas aconteçam, mas me manter em constante espera estratégica para me beneficiar das situações no momento em que elas estão se configurando. Me tornando uma pessoa cada vez mais eficaz nas minhas ações e cada dia mais humana pela perspectiva da Vida Kung Fu.


  



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