quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

A aposta e a entrega.

O que é ser um Discípulo? Para que se assume um compromisso vitalício relacional com alguém? Qual a necessidade desse compromisso para se aprender uma arte marcial? Acredito que a pergunta crucial dentre todas essas, e talvez a mais simples de se responder para mim seja o porquê sou um Discípulo do Mestre Sênior Julio Camacho. Ao qual me referirei por Si Fu (Líder de Família Kung Fu) nessas linhas. 


Cerimônia Tradicional de Discipulado em Dezembro de 2013
 de Claudio Teixeira com o Mestre Sênior Julio Camacho

Eu realmente não saberia explicar com exatidão todos os fatores que me motivaram aceitar o convite feito pelo meu Si Fu, quando me tornei seu Discípulo em Dezembro de 2013. Se fosse elencar o que me recordo com alguma precisão, parte dessa decisão eu atribuiu ao "magnetismo" de sua cativante personalidade, que até hoje me inspira tentar descobrir o que quero ser quando crescer, e outra parte numa  muito precária compreensão que apenas pela Vida Kung Fu se fosse possível desvendar o Sistema Ving Tsun. 


Claudio Teixeira e seu Si Fu, o Mestre Sênior Julio Camacho
Conversando sobre o Sistema Ving Tsun na Philadelphia.

Não que eu ainda não saiba o que quero ser do alto dos meus quarenta e oito anos de idade, mas que quanto maior meu entendimento da relação discipular, mais compreendo que haja espaço para eu crescer em todas as áreas da minha vida. Nisso que busco como o Desenvolvimento Humano, que é ofertado à todo praticante da Denominação Moy Yat Ving Tsun, meu Si Fu tem a exímia habilidade, quando me permito, de extrair de mim num processo de melhoria constante e progressiva, o melhor que tenho a oferecer à mim e à sociedade. E seu exemplo pessoal continua sendo uma fonte cada vez mais abundante de inspiração na minha própria capacidade de realizar e evoluir.


Aniversário do Mestre Sênior Julio Camacho em Copacabana 2020


Já ao que tange minha compreensão atual de vida Kung Fu, essa sim de 2013 para cá passou por saltos conceituais gigantescos, desde do dia que me tornei seu Discípulo, até o momento em que estou escrevendo esse texto. No início, "a tal"  Vida Kung Fu era um mistério, um véu de fantasias e projeções, onde eu passaria fazer parte de uma espécie de sociedade secreta onde os segredos do Sistema Ving Tsun me seriam revelados pelo compromisso assumido entre eu e meu Mestre, na crença que eu conseguiria um dia me tornar corporalmente tão habilidoso quanto ele. Tirando essa bobagem de sociedade secreta que nem vale a pena entrar no mérito, pois temos CNPJ e contas nas redes sociais, compreendo cada vez mais que  não tem mistério algum se praticar o atenção cuidadosa, ao qual usamos o termo zelo pela definição para se desenvolver como pessoa. O grande diferencial simplesmente está no uso do meu Si Fu como "alvo" para esse zelo, numa relação onde essa prática ocorre dentro e em pró de uma relação marcial. Bom, pelo menos para mim não existe mais nada de fantástico nisso, mesmo que para quem esteja lendo esse texto possa parecer complexo, ou estranho, cada vez mais compreendo que a ampliação da eficácia pessoal nas minhas relações com o todo, acontece naturalmente nesse convívio.


Foto Oficial da Prática na Sede do Clã Moy Jo Lei Ou na Barra da Tijuca, a esquerda
o Mestre Thiago Pereira ao lado de nosso Si Fu, o Mestre Sênior Julio Camacho 


Dado esses dois fatores da minha própria jornada marcial, venho compreendendo o tamanho da importância da minha própria entrega à essa relação, que já passou por tantas experiencias ricas, sempre numa crescente nos momentos onde as maiores dificuldades aconteceram. Paradoxalmente, minha relação com meu Si Fu sempre se tornou mais intensa, a medida que tivemos nossos maiores desafios em bancar nossa aposta recíproca nela. E talvez seja esse o segredo dessa crescente constante com alguns saltos exponenciais, justamente nos momentos mais complexos. Porque é comum se esperar de um Si Fu que essa aposta seja irrevogável, mas me inspirando na maneira como o meu Si Fu sempre se manteve firme diante dos riscos que correu em apostar em mim, eu também me dispus sempre em reinventar-me como seu Discípulo nessas ocasiões. 

E nesse espírito de mais um ciclo de evolução dos meu próprio compromisso discipular, que encerro esse texto embalado, no duplo sentido desta palavra,  pelo sentimento de renovação e esperança que toda virada de ano carrega como signo, desejo a todos um ano de 2021 com muito zelo e aproveitamento favorável em todas circunstâncias, e mesmo que sendo redundante nesses votos para quem pratica, para estes desejo um ano repleto de Kung Fu.



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