segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Quanto custa para aprender Kung Fu?

Sou Claudio Teixeira, discípulo do Mestre Sênior Julio Camacho, ao qual me passarei me referir por Si Fu nesse texto, termo chinês que também significa Líder de Família Kung Fu, assim como sou o responsável por representá-lo no Núcleo Vitrine de Ipanema, no Rio de Janeiro, numa charmosa galeria do mundialmente conhecido bairro que dá nome ao nosso Centro de Transmissão do Sistema Ving Tsun de Inteligência Marcial, onde com muito esmero entregamos nosso Legado através desse Sistema Kung Fu pelo exercício de compreensão da Vida Kung Fu orientados pelos preceitos da Família Kung Fu. 

Mestre Sênior Julio Camacho em prática com o Tutor Claudio Teixeira



Como profissional na linha de frente de todo esse processo, as perguntas mais comuns que costumo ouvir trabalhando na área são: quanto custa para se aprender Kung Fu, qual o preço de nossas aulas?  Muitas vezes costumo fazer um piada para quem acabou de se matricular em nossa escola, que depois do boleto pago já pode processar-nos por propaganda enganosa porque nós não ensinamos Kung Fu. E que de fato é impossível ensinar Kung Fu, mas certamente, se o aluno persistir em sua busca por aprender, desenvolverá um alto nível de Kung Fu. Porque não nos cabe muito além de promover através da atenção cuidadosa, a ambiência necessária para o aflorar do Kung Fu de cada um, num sentido muito mais profundo que as técnicas de combate corporal podem promover. Meu Si Fu costumava dizer que o papel de um Líder de Família Kung Fu é o de um porteiro que abre as portas da Família para os ingressantes, e muitas vezes fica esperando aqueles que por ventura se afastaram retornar. Em recente conversa ele me disse que hoje sente-se mais como um zelador do prédio, aquele que além de muitas vezes ser quem abre as portas, cuida do regar das plantas nas hora adequadas para que elas cresçam sadias. 

Mestre Sênior Julio Camacho Orientando a ambientação
do Centro de Transmissão do Sistema Ving Tsun
Núcleo Vitrine de Ipanema 


É muito natural ouvir isso de quase todos que  permaneceram conosco, que chegaram num de nossos Centros de Transmissão do Sistema Ving Tsun procurando algo específico, e encontram inúmeras outros que nem sabia que se era tão necessários se encontrar. O primeiro véu se que se rasga sobre o Kung Fu é a visão simplória de se tratar apenas de um estilo de socos e ponta pés, e mesmo que se tenha o prévio conhecimento de todo aspecto filosófico inerente à Arte Marcial. É com algum tempo que ressignificamos o entendimento primário que tínhamos ao começarmos essa jornada. E este aprimoramento contínuo da próprio sentido de Kung Fu é crucial para ampliar os próprios benefícios da prática para a luta do dia a dia. 

Quando comecei ter uma compreensão um pouco mais profunda de como o Kung Fu poderia ser vivenciado de uma maneira intrínseca ao meu estilo de vida, elaborei uma tradução bem imatura muito ligada à minha própria maneira de ser,  num exercício de alinhar o todo à minha perceção, não me enxergando como parte, sem trabalhar o esvaziamento do meu ego, como qualquer processo consistente de transformação pessoal se propõe. Naquele momento, acreditava que Kung Fu era desenvolver a habilidade de se conseguir arcar com qualquer custo necessário para se alcançar um objetivo. Quase que um reforço a uma das minhas características mais marcantes, a teimosia. 


Mestre Sênior Julio Camacho conduzindo a prática 
na Sede do Clã Moy Jo Lei Ou


Com tempo, aprendendo usar aquilo que meu Si Fu traduz como lente Kung Fu, comecei sentir com mais nitidez os fluxo da própria vida, e compreender que na maioria das vezes, meu ímpeto, ao qual sempre tive tanto orgulho, era de longe meu maior adversário. A duras penas, aprendi que meu Kung Fu não estava no estardalhaço de movimentos carregados de habilidade e energia, e muito menos na minha louvável capacidade de improvisar. Passei acreditar menos na minha criatividade e investir mais na minha preparação. Comecei compreender que as pequenas ações invisíveis como colocar os pés de maneira estratégica eram muito mais importantes que na aposta em deixar minhas mãos mais hábeis. Traduzindo isso para o cotidiano, me tornei muito mais atento e cuidadoso com cada atitude minha, ouvindo mais que falando, estudando mais que ensinando, me preparando mais que fazendo, e dessa maneira construindo mais que consertando, dando vazão para um nível de criatividade muito mais voltada para realizações que para as reparações.

Meu Si Fu sempre reafirma que Kung Fu se mensura por décadas. Isso pode ser entendido que dizer que pratica há menos que dez anos, é afirmar que ainda se é imaturo. Compreendo como a vitaliciedade de uma relação discipular coaduna com a necessidade de algumas milhares de horas de investimentos progressivo no desenvolvimento do próprio Kung Fu. A grande vantagem é que de fato se tem algo que ele também afirma e hoje compreendo cada vez melhor, é que Kung Fu me ensina aprender a aprender, e quanto mais aprendo, mais otimizo minhas formas de aprendizado. 

Café da Manhã Claudio Teixeira, Mestre Thiago Pereira e Mestre Sênior
Julio Camacho 



Ao contrário da minha visão imatura da necessidade de esforço para me desenvolver, hoje percebo cada vez mais o quanto consigo legar mais, gastando menos energia, por consequência a eficácia me permite uma integridade física e mental integral, que se traduz acima de tudo no uso do tempo maneira mais inteligente. E sem sombra de dúvidas, o uso do tempo como bem intangível mais precioso que tenho seja a melhor maneira que tenho de mensurar a relação de custo benefício de ser um praticante de Kung Fu. Otimizar o tempo como um recurso que me é a cada instante mais escasso pelo fato que o curso natural da vida é finito, me permite parar de apostar em decisões cuja a minha experiência já  comprovou serem onerosas, e afirmar que quanto mais invisto meu tempo em Kung Fu, maior meu retorno na qualidade do uso do meu próprio tempo para qualquer ação em minha vida. Trazendo assim uma significava melhora na minha capacidade de me relacionar com o todo, e um qualitativo poder de afetá-lo positivamente.  





Um comentário:

  1. Muito bom! Você podia fazer uma parte 2 com alguns exemplos práticos de como aplicou o Kung Fu na vida

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