sexta-feira, 25 de março de 2022

Dias de Do.

Seu Claudio Teixeira, Discípulo do Mestre Sênior Julio Camacho, a quem passarei me referir por Si Fu nessa publicação, e já entrando no tema que pretendo discorrer nas linhas abaixo, já vou logo avisando aos leigos, que não, eu não errei o título desse artigo. "Do" é maneira carinhosa que resumimos a transliteração do Cantonês do nome das duas facas usadas Nível Superior Final para o acesso ao Domínio "Baat Jaam Do" no aprendizado do Sistema Ving Tsun em nossa Família Kung Fu. E especialmente hoje gostaria de narrar um pouco da minha experiência até chegar nesse ponto da minha jornada Kung Fu. 
Mestre Sênior Julio Camacho manuseando 
réplicas de prática dos Ving Tsun Do 

Me lembro que quando comecei praticar, por volta de 2002, foi me explicado na época que cada um dos seis domínios tinham naturezas que se relacionavam com conceitos específicos. E que o acesso ao  Nível Superior Final, aquele cuja conclusão lhe habilitava se tornar Mestre Qualificado e Líder de Família Kung Fu, apontava para o aprimoramento do poder de Síntese. Desde do primeiro dia em que ouvi falar isso, encarei que chegar nesse ponto era poder desenvolver a capacidade de lidar de maneira simples com questões complexas, o que eu ainda não havia compreendido é que existe uma diferença abissal entre simplicidade e facilidade. Pois apenas o tempo foi me ajudando compreender que desenvolver Kung Fu não é fácil, mas torna a vida mais simples.

A primeira vez que tive contato com as Facas do Sistema foi nas mãos da Sisuk (Tio Kung Fu mais novo) Úrsula  Lima, na época ainda praticante do Nível Avançado de Natureza "Biu Ji. Ela estava encapando com uma fita a empunhadura das armas de prática do meu Si Fu, e me recordo dele tê-la orientado que o sentido que ela usou para passar as fitas não era favorável ao manejo do "Do", o que me chamou atenção em tentar compreender o porquê faria sentido isso. Na cultura de nossa Linhagem, a prática e acesso ao Domínio "Baat Jaam Do" sempre é feita de forma restrita aos praticantes que estão no Nível, portanto, demorou mais de uma década e meia para de fato começar compreender aquilo que me parecia certo  preciosismo naquela orientação. 
Claudio Teixeira observando seus irmãos Kung Fu praticando 
o Baat Jaam Do



Ainda me lembro como se fosse hoje meu primeiro dia de acesso à esse Nível, como costumamos chamar "Hoi Do" (Abertura do Domínio). E o como me foi emblemático a maneira que meu Si Fu, através da sua experiência, expôs as brechas na meu Kung Fu, que mesmo com múltiplos anos de prática, não me permitia impingir ao manejo das facas nenhuma marcialidade efetiva. Mesmo com duas armas nas mãos, a sensação que vulnerabilidade era tamanha, que de fato me sentia mais seguro desarmado que com elas. Dessa forma, o simbolismo da morte que tanto trabalhamos no processo de desenvolvimento de Kung Fu, me deixava claro que não saber trabalhar com a natureza imanente de qualquer objeto, torna impossível extrair o potencial de letalidade eminente simbólica, ou real, mesmo que este seja uma arma. 

Desta forma, desenvolver-se no acesso à Natureza do Nível Superior Final, é percebido hoje por mim como compreender e extrair o potencial marcial de qualquer ente. E como meu Si Fu sempre alerta, marcialidade e precisão são conceitos que coadunam e suas essências. Isso tudo me faz lembrar do dia em que uma comitiva muito especial da Família Kung Fu, foi à Buenos Aires, no Mogun (Casa da Família Kung Fu) do meu Sisuk Leandro Godoy, conhecido pelas suas impressionantes habilidades de cutelaria, para buscarmos os Ving Tsun Do personalizados sob encomenda, de acordo com as medidas corporais de cada praticante do Sistema Ving Tsun. Aquilo que acima chamava de preciosismo, e hoje compreendo como precisão. Nessa viagem, em especial, eu liderei essa comitiva, e o sucesso de cada etapa me ajudou aprender mais ainda sobre como tais momentos de Vida Kung Fu carregam em si o potencial de traduzir a marcialidade para o cotidiano.

Comitiva da Família Moy Jo Lei Ou liderada pelo Mestre Sênior
Julio Camacho(acima à esquerda) à Buenos Aires em 2019
No dia de hoje, trabalhando em meus estudos sobre o Sistema, tenho plena ciência que ainda falta muito para chegar minimamente ao ponto ideal de não mais sentir os desconfortos da imprecisão no manuseio dos lendários "Ving Tsun Do". Mas como aprendi através do tempo com meu Si Fu: Kung Fu se conta por décadas. E como ainda estou apenas no início da minha segunda década como praticante, não tenho mais a pressa do praticante iniciante, pois minha busca pela simplicidade eficaz está só começando. Até porque hoje meu maior foco está em apoiar aqueles que chegaram depois de mim, representando da maneira mais digna que consigo meu Si Fu no Centro de Transmissão Vitrines de Ipanema, na rua Visconde de Pirajá, 580. Onde amanhã, dia 26 de Março de 2022 ÀS 9:00, será promovido um café da manhã temático sobre o processo de Admissão Familiar, onde será feito o convite para ingressar na Família Moy Jo Lei Ou de Iago Lima, em seu primeiro passo para as ricas experiências que a Vida Kung Fu tende promover!


Nenhum comentário:

Postar um comentário